Louis Le Vau
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Domingos Tavares
ISBN 9789898217004
Dafne
Capa mole, 137 pp, 15,0×22,5 cm
Português
2008
Em stock
Louis Le Vau e François Mansart foram os arquitectos que se destacaram em França na compreensão de uma nova urbanidade, tomando as construções comuns dos endinheirados burgueses parisienses como referência para uma nova estética. Residências particulares posicionaram-se a par dos palácios reais e das instalações religiosas, disputando com eles a atenção dos olhares dos cidadãos nos lugares da maior significação urbana. Alterou-se a relação do público com a arquitectura, por força do alargamento da consciência colectiva sobre o valor da vida pública. O sonho dos humanistas de Quinhentos passou a ter expressão nas grandes metrópoles como a parisiense, mudando a escala dos interesses, mas mantendo a ideia de que a qualidade das relações quotidianas passava pela criação da beleza na cidade moderna e ordenada. Destaque-se uma dinâmica muito própria nas sequências espaciais, na articulação ordenada dos volumes e na justa percepção da importância do processo urbano para a caracterização das formas arquitectónicas, que se inscrevem entre os principais ingredientes que constituíram o movimento barroco. A este propósito e reflectindo sobre a evolução da arquitectura nesta época, constata-se que facilmente os sonhos se tocaram na vontade do absoluto e do infinito.
A nova cultura artística continuou a assentar na contradição entre os valores espirituais de uma religiosidade militante empenhada na justificação das desigualdades materiais entre senhores e servos e o exercício de uma racionalidade que, sob o discurso filosófico-matemático, procura descobrir as verdades que emanam da concepção de Deus, mas têm expressão material na natureza física das coisas deste mundo. O «discurso do método», associado às práticas da racionalidade discursiva, serviu como argumento de sustentação da ordem natural face à religião e ao poder uniformizador do Estado, mas abriu o campo filosófico à legitimação da dúvida perante os valores estabilizados da moral e dos costumes. A descrença na regra social, num quadro de cepticismo original em direcção ao reconhecimento da diversidade humana, foi expressa pelos poetas libertinos e ofereceu à cultura francesa a perspectiva do progresso sob a ciência, à luz de uma outra moral, adaptada ao concreto da vida quotidiana.
A contribuição de Le Vau assumiu um particular significado, quer ao interpretar a seu modo caminhos então recentes do barroco romano, como os da progressiva teatralização do espaço, quer ao dar continuidade a uma orientação mais pragmática, presente na prática dos primeiros arquitectos clássicos parisienses, sempre sensíveis ao domínio das seculares técnicas edificatórias em pedra e madeira. Acrescentou-lhe a noção de alargamento do campo visual em contexto urbano ou as mais profundas perspectivas na implantação das casas de vilegiatura. Respeitou o valor da distância em atenção ao observador, recorrendo a planos curvos e movimentados, ao uso das ordens gigantes em diferentes ou inesperadas posições das fachadas, misturando escalas em exercícios de analogia com as composições musicais. Graças a uma habilidade inata no manuseamento das formas, criou, enfim, uma linha na arquitectura que serviu de referência aos programas de inúmeros príncipes europeus. Homem pragmático mas sensível e inventivo, encontrou a dimensão do real para a compatibilizar com o desejo imenso dos notáveis do seu tempo em atingir a noção do infinito.